Revista Praça
Número 1 . 2024
Um experimento coletivo pautado na liberdade criativa e divulgação cultural a partir de perspectivas plurais. Música, cinema, fotografia, artes plásticas, poesia. As páginas da Revista Praça contam histórias que demonstram as nuances de uma cultura rica, humana e independente.
Editorial
Desde as intervenções pelo novo jornalismo promovidas por autores como Gay Talese e Truman Capote, na década de 1960, o fazer jornalístico converteu-se em um campo de tensões entre as técnicas da reportagem e da narrativa literária. Inflexões que, ainda hoje, não esgotaram as suas possibilidades, tendo em vista as mudanças ocorridas tanto nas práticas do jornalismo quanto no entendimento dos aspectos subjetivos que atravessam o seu processo de escrita. Como uma atividade incapaz de dissimular o seu gesto constitutivo enquanto ato narrativo, a escrita jornalística está fadada a incorrer nos mesmos dilemas que, por exemplo, definem a relação entre a veracidade do argumento histórico e o processo de escrita que perfaz o exercício do historiador.
Por essa via, fazer jornalismo é sempre um gesto poético, no sentido original da palavra. Tal como a poiesis grega se divide entre a imaginação e a prática, o relato jornalístico, assim como o relato histórico, jamais se desfaz de sua parte narrativa. Para os historiadores mais atentos, essa parte “maldita” que afasta a ciência histórica de um ideal de objetividade, é a própria condição do saber histórico. O jornalismo, enquanto ciência e prática atravessada por uma condição semelhante, deve assumir não só que a objetividade é sempre fruto da experiência subjetiva, mas que o conhecimento e a realidade são resultados do modo pelo qual o sujeito narra o mundo para si e os outros.
Em diálogo com importantes publicações nacionais e internacionais dedicadas ao que ficou conhecido academicamente como jornalismo narrativo, a revista Praça vem ao mundo em sua primeira edição, apresentar um novo espaço de reflexão sobre as fronteiras entre o jornalismo e a literatura. Como uma proposta de articulação entre as formas do jornalismo literário e os demais gêneros da reportagem, o seu objetivo é promover o encontro dos estudantes do curso de Jornalismo do Campus Lourdes, com o exercício de alteridade que permeia a prática jornalística e sua função sociocultural. Daí o nome Praça, como emblema desse importante espaço público destinado ao encontro, à passagem, ao lazer, ao diálogo e a todas as manifestações da democracia que têm como palco essa arena comum.
Enquanto ato poético e espaço para todas as formas do comum, o propósito da revista Praça é fomentar a realização de diferentes conteúdos jornalísticos, em formatos capazes de articular os diferentes gêneros (como a reportagem, a crônica e a opinião) e as relações da escrita com outras mídias (como o vídeo, o áudio e a fotografia). Logo, a proposta da revista é elaborar conteúdos que revelem um esforço investigativo e uma escrita repleta de seus indícios, através de um desafio de promover a integração efetiva entre o jornalismo e o pensamento, entre os estudantes e a criação de um olhar crítico.
Com este intuito, o primeiro número da revista Praça é um convite a conhecer um novo universo, em que sobressaem-se a presença do feminino, dos corpos negros, da cultura brasileira e do próprio jornalismo, como força maior que dá movimento a essa novidade e aos desejos daqueles que se esforçaram para trazê-la ao mundo. Vida longa à revista Praça!
Marco Túlio Ulhôa
Editor geral e coordenador da revista Praça
Equipe